Escritas amefricanas
diálogos entre Ana Maria Gonçalves e Luz Argentina Chiriboga
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v7i4.2194Palavras-chave:
Afrodiáspora; Amefricanidade; Ana Maria Gonçalves; Escrita de mulheres negras; Luz Argentina Chiriboga.Resumo
Com base na ideia de que a literatura produzida por escritoras negras conduz a experiências subjetivas, remonta às memórias – individuais e coletivas – de mulheres negras e cumpre deveres identitários, coletivos e políticos, este artigo reflete acerca das possibilidades de leitura de duas obras que recontam o sistema colonial escravagista, relatam a desumana travessia forçada (África-América), explanam sobre as rupturas culturais e familiares de africanas/os sequestradas/os em África e escravizadas/os nas Américas, expõem as lutas do povo negro. E que, sobretudo, dão visibilidade às mulheres negras protagonistas de histórias individuais e coletivas. A produção intelectual e literária de mulheres negras – aqui representada por Ana Maria Gonçalves (Brasil) e Luz Argentina Chiriboga (Equador), que embora produzam em países distintos, aproximam-se pelas cicatrizes da colonialidade em toda a América –, reconstrói vivências e aciona memórias coletivas do passado escravocrata e do presente que herdou a estigmatização dos corpos negros privados de identidade social, intelectual e cultural. Assim, a recriação das narrativas e das imagens do povo negro, desvinculada do padrão hegemônico que desumaniza e aniquila nossa (re) existência, constitui uma força-motriz para resgates históricos, representações identitárias e protagonismo negro. Para tanto, cabe neste estudo aproximar as afrografias tecidas em Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves, e Jonatás y Manuela, de Luz Argentina Chiriboga, destacando, deste modo, os movimentos insurgentes de escritoras negras que apontam aos processos de autoidentidade, identidade coletiva, dores e lutas da (re) existência do povo negro na afrodiáspora.
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