Invenção da subalternidade

o não colonizado em representações dos tapuias produzidas por padres e cronistas do século XVI no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23899/relacult.v7i1.2177

Palavras-chave:

Subalternidade, Representações, Tapuias, Não colonizados

Resumo

Tapuia foi um termo pejorativo, utilizado largamente no período colonial para designar, primeiramente, os povos nativos do tronco etno-linguístico Macro-Jê. Também foi apropriado pelo colonizador, e significou “o bárbaro mais bárbaro que o bárbaro”. O objetivo deste artigo é discutir a “invenção da subalternidade” a partir da tensão entre o colonizador e os povos colonizáveis e não colonizáveis (os tapuias). Metodologicamente, a partir de cartas de padres jesuítas do século XVI e de relatos de cronistas dos séculos XV e XVI, suportados por uma revisão de literatura pertinente à investigação, primeiro é discutido a subalternidade como uma ideologia que nasce com a colonialidade e a modernidade nos processos de colonização deste continente e que funciona como operacionalizadora destas duas últimas. Daí emergem tanto a alteridade, materializada na figura do Outro, com a sua impossibilidade, manifestada no Outro em si-mesmo; em seguida, são analisados alguns importantes aspectos das representações dos tapuias feitas pelo padre João de Aspilcueta Navarro. Tais representações reverberariam posteriormente entre outros cronistas; e por fim, as ideologias da subalternidade, da colonialidade e da modernidade são analisadas na perspectiva da realização do próprio processo colonizador. O substrato teórico desta discussão é o padrão colonial/moderno de poder no bojo do sistema-mundo colonial/moderno. Desse modo, a “conquista” pela arma e pela cruz, não restringe-se ao período colonial, mas funda um sistema de domínio que chega, ainda com grande vigor, em nossos dias.

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Biografia do Autor

Paulo Robério Ferreira Silva, Universidade Estadual de Montes Claros

Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social (PPGDS) da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Montes Claros, Minas Gerais; E-mail: terradecontato@gmail.com. Bolsista CAPES.

João Batista de Almeida Costa, Universidade Estadual de Montes Claros

Doutor em Antropologia pela Universidade Nacional de Brasília (UnB). Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social (PPGDS) da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Montes Claros, Minas Gerais; E-mail: d.jobacosta@gmail.com

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Publicado

2021-08-26

Como Citar

Silva, P. R. F., & Costa, J. B. de A. . (2021). Invenção da subalternidade : o não colonizado em representações dos tapuias produzidas por padres e cronistas do século XVI no Brasil. RELACult - Revista Latino-Americana De Estudos Em Cultura E Sociedade, 7(1). https://doi.org/10.23899/relacult.v7i1.2177

Edição

Seção

Dossiê: - Povos e comunidades tradicionais, ancestralidade e decolonialidade