O “viralatismo” histórico no consenso acerca do fracasso brasileiro. Reflexões sobre a urgência da construção de um pensamento crítico por e para as margens.
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v5i4.1347Keywords:
Viralatismo histórico – Educação à cidadania – Crítica Pós-colonial.Abstract
Este trabalho propõe reflexões sobre o consenso acerca da ideia de fracasso nacional que domina o cenário da crítica sociopolítica brasileira. Comumente elaborada a partir de comparações por contraste, essa ideia do fracasso brasileiro diante das promessas da Modernidade se fundamenta numa naturalização histórica de problemas estruturais complexos. Dócil ao questionar o paradigma ocidental, a crítica dominante é feroz com o que considera ser o elemento-chave do problema: “o brasileiro”. Suposta raiz do problema para a qual esses discursos convergem, “o brasileiro” aparece como um tipo social inacabado, devendo, assim, ser educado, moldado, europeizado. Por isso é tão comum o argumento da educação à cidadania aparecer como remédio à ideia de persistência de uma cultura pré-moderna que impediria o progresso e a civilização de florescerem. Problemático, pois contribui para uma opacidade teórica que invisibiliza questões estruturais fundamentalmente modernas e legitima o status quo de desigualdades, esse consenso é sintomático de um viralatismo em grande parte devido a um passado colonial ainda presente. Por essas razões, este trabalho analisará, tendo a questão educacional como fio condutor, discursos que (re)produzem a ideia do fracasso brasileiro desde o século XIX, questionando o ponto cego da crítica dominante. O objetivo é propor, através do arsenal teórico-metodológico pós-colonial, reflexões para a construção de uma crítica sociopolítica brasileira por e para as margens.
References
BARBOSA, R. Reforma do Ensino Primário e várias instituições complementares da Instrução Pública (1883), Obras completas, Ministério da Educação e Saúde, Volume X, Tomos 1, 2, 3 e 4. Rio de Janeiro: Typographia Nacional. 1947.
BOTO, C. Instrução pública e projeto civilizador. O século XVIII como intérprete da ciência, da infância e da escola, São Paulo, Editora Unesp, 2017, 428 p. (Obra completa)
CALSAVARA, T. S. Práticas da educação libertária no Brasil. A experiência da Escola Moderna em São Paulo. 2002, 271 p. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo. 2002.
CANDAU, V. M. F. Educação descolonizadora: construindo caminhos, Nuevamérica, v. 149, Buenos Aires, 2016, pp. 4-17.
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil. O longo caminho, 13ª edição, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2010, p. 236. (Obra completa)
CARVALHO, J. M. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi, 3ª edição, CIA das Letras, São Paulo, (1987) 2004, 196 p. (Obra completa)
COLIGNON, B. Notes sur les fondements des postcolonial studies. EchoGéo, v. 1, juin/août, 8 p. 2007.
DAMATTA, R. Carnavais, Malandros e Heróis. Para uma sociologia do dilema brasileiro. 6ª edição. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, 350 p. (Obra completa)
DELAZANE, T. As Reformas educacionais de Benjamim Constant (1890-1891) e Francisco Campos (1930-1932): o projeto educacional das elites republicanas. 2007, 224 p. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. 2007.
DUPUIS-DERI. F. Démocratie, histoire politique d'un mot: aux États-Unis et en France. Montréal (Québec): Lux. 2013. (Obra completa)
GALEANO, E. As verias abertas da América Latina. Porto Alegre: L&PM Pocket. 2010. 396 p. (Obra completa)
HADDOUR, A. Fanon dans la théorie postcoloniale. Les Temps Modernes. (n° 635-636). p. 136-158. 2006/1.
HOLLANDA, S. B. Raízes do Brasil. 26ª edição. São Paulo: Cia das Letras. 2009. 220 p. (Obra completa)
LOBATO, M. Conferências, artigos e crônicas. Jaguaré – SP : Ed. Globo. 2010. 243 p. (Obra completa)
NABUCO, J. Extinção da escravidão. Discussão na Câmara dos Deputados e no Senado : desde a proposta do governo até a sanção da Lei n° 3353 de 13 de maio de 1888, Rio de Janeiro : Imprensa Nacional. 1889.
OLIVEIRA, L. F. O que é uma educação decolonial. Nuevamérica. Buenos Aires, v. 149, p. 35-39, 2016.
RANCIERE. J. La haine de la démocratie. Paris: La Fabrique. 2005. (Obra completa)
RANCIERE, J. Le maître ignorant: cinq leçons sur l’émancipation intellectuelle. Paris: Fayard, 1987. (Obra completa)
REGO, T. C. et al. (orgs.), Memória, História e escolarização. Petrópolis – RJ: Vozes. São Paulo: Revista de Educação. Ed. Segmentos. 2011. (Obra completa)
RODRIGUES, N. Os africanos do Brasil. 8ª edição. Obra póstuma [1933]. Brasília: Ed. UnB, 2004. 315 p. (Obra completa)
RODRIGUES, N. Crônica: Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. S/n. In: A Pátria de chuteiras. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira Participações S.A. 2013. 108 p.
RAJAOSON, J. Généalogie de la Philosophie des Lumières : de Nietzsche à la pensée postcoloniale. Revista Brasileira de Estudos da Presença. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (à paraître, halshs-01702801). 19 p. Fev. 2018.
SCHUELER, A. F. M; MADALGI, A. M. B. M. Educação escolar na Primeira República: memória, história e perspectivas de pesquisa. Tempo. Revista do Departamento de História da UFF. v. 26, p. 32-55. 2009.
SOUZA, J. A dimensão simbólica do capitalismo moderno: para uma teoria crítica da modernização. Revista Estudos Políticos. v. 5, p. 41/59. 2012.
SOUZA, J. A modernização seletiva. Brasília: Ed. Da UNP. 2000. (Obra completa)
SOUZA, J. Subcidadania brasileira: para entender o país além do jeitinho brasileiro. Rio de Janeiro: LeYa. 2018. P. 287 p. (Obra completa)
SOUZA, V. S. Por uma nação eugênica: higiene, raça e identidade nacional no movimento eugênico brasileiro dos anos 1910 e 1920. Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro.v. 1, n. 2, p. 146-166. jul/dez 2008.
SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Ed. UFMG. 2014. 174 p. (Obra completa)
VIANA, O. Instituições Políticas Brasileiras. Metodologia do Direito Público: os problemas brasileiros da ciência política. Volume II. 3ª edição. Rio de Janeiro: Record Cultural. 1974. 182 p. (Obra completa)
XAVIER, M.E.S.P. Poder político e educação de elite. São Paulo: Cortez. 1980. 144 p. (Obra completa)
Downloads
Published
Issue
Section
License
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
Authors retain the copyright of their works and grant RELACult the right of first publication. All articles are simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0), which allows sharing, distribution, copying, adaptation, and commercial use, provided that proper credit is given to the original authorship and the first publication in this journal is acknowledged.
RELACult makes all of its content openly accessible, thereby increasing the visibility and impact of the published works. The contact information provided in the submission system is used exclusively for editorial communication and will not be shared for any other purpose.