BNCC e Juventudes: Projeto de Vida na Escola

Resumo

 Este ensaio teórico propõe a análise dos efeitos de subjetivação das juventudes gerados pela enunciação “projeto de vida na escola” presente no texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A análise da referida enunciação é feita pela via das Filosofias da Diferença e objetiva-se problematizar a produção de um sujeito estudante como protagonista de seu projeto de vida. Compreende-se que o discurso da BNCC constitui uma metanarrativa universalizante do estudante protagonista do seu projeto de vida, à medida que, atribui sentido à noção de juventude, baseada na articulação entre a concepção moderna de tempo e a concepção produtivista de um sujeito contemporâneo que projeta seu futuro lugar no mundo. Assim, o discurso prescritivo da BNCC de regulação dos currículos tende a acoplar as engrenagens escolares ao regime vigente que requer a formação das juventudes aos moldes empresariais. A nova configuração subjetiva torna o estudante jovem responsável pelo seu próprio destino, lança-o ao agir como auto empreendedor de si mesmo. Faz parte do funcionamento do regime de colonização e expropriação das forças e dos desejos responsabilizar os indivíduos pelos êxitos e fracassos. Contudo, esse processo de produção subjetiva não elimina desigualdades que constituem a materialidade das existências juvenis. Pelo contrário, as desigualdades são fabricadas pelo próprio regime e nele incorporadas através de práticas discursivas como a dos “projetos de vida na escola”. No entanto, mesmo que o discurso institucionalizado leve sujeitos jovens ao investimento de esforços para o cumprimento das metas estabelecidas, ocorrem falhas e lacunas nesse processo de engendramento dos currículos à máquina colonial-capitalística. Resta fazer dessas brechas espaços de criação nos quais seja possível perceber que há diferentes juventudes e agir para que os currículos se abram às reais demandas dos/as estudantes.

Palavras-Chave: BNCC; currículo; dicurso; juventude;  projeto de vida.