O Processo de medicalização da natureza
Transtorno do Déficit de Natureza e governo de condutas
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v8i2.2251Palavras-chave:
Transtorno do Déficit de Natureza, Medicalização da natureza, Relação humano e natureza, biopoder, Estudos culturaisResumo
Os sujeitos e a “natureza” são tomados enquanto produções culturais, imbricadas a relações de saber/poder, ancoradas em regimes de verdade, que, ao nos interpelarem, constroem as nossas subjetividades. Olha-se para a produtividade da criação e da circulação do “Transtorno do Déficit de Natureza” (TDN). Esse termo/objeto foi cunhado no livro “Last Child in the Woods” (2005) ou “A Última Criança na Natureza” (2016) –, referindo-se a problemas de saúde decorrentes da falta de contato com a “natureza”. Analisam-se prescrições médicas, ditos tomados como “verdades”, acerca da recomendação de condutas para médicos pediatras e para famílias, com a finalidade de produzir sujeitos “saudáveis” através de mais quantidade/qualidade de contato com a “natureza”; veiculadas pelo manual “Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes” (2019). O embasamento teórico-metodológico do estudo pautou-se pelo campo dos Estudos Culturais, em suas vertentes pós-estruturalistas, com inspiração nos estudos foucaultianos. Atentaram-se para as ferramentas analíticas – subjetividade, relações de saber/poder, regime de verdade, disciplina, biopolítica, biopoder, governo de condutas, dispositivo –, produtivas para pensar sobre “natureza” e saúde/doença. O livro e o manual citados integram o “Dispositivo do TDN”, utilizando-se da “natureza” como estratégia de prevenção/promoção de saúde para governar condutas individuais e populacionais; como objeto de medicalização dos sujeitos, e como tática contemporânea do biopoder.
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