Dogma, tabu, pânico moral

o melodrama e o horror na representação do aborto na TV e no cinema brasileiros dos anos 2010

Resumo

As telenovelas Pecado mortal (2013-2014), de Alexandre Avancini, e Topíssima (2019), de Rudi Lagemann, da TV Record, A dona do pedaço (2019), de Amora Mautner, da TV Globo, assim como no cinema O filme dos espíritos (2011), de André Marouço e Michel Dubret, As mães de Chico Xavier (2011), de Glauber Filho e Halder Gomes, e Deixe-me viver (2016), de Clóvis Vieira, formam um grupo de produções que abordaram o controverso e evitado tema do aborto ao longo da década passada. A análise comparada dessas obras diante de uma contextualização histórica expõe a estreita ligação entre a cultura midiatizada e a crescente participação de grupos religiosos no Congresso Nacional, em momento de retrocessos políticos locais e mundiais no estado de bem-estar social. Além disso, importam e adaptam a fórmula de soft power que Hollywood difunde em consonância com a dinâmica política de Washington e seus lobbies evangélicos. Em diferentes graus, essas obras estimulam constrangimento e culpabilização da mulher diante da possibilidade de interrupção da gravidez, por chaves comparáveis às dos gêneros fílmicos do melodrama e do horror. Suas tramas respaldam pautas difundidas pela bancada evangélica na política, que visam criminalizar todo tipo de aborto.