Injustiças epistêmicas
relatos e práticas de resistência epistemológica e política das mulheres afrodescendentes da área metropolitana de Lisboa
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v9i2.2340Palavras-chave:
Injustiça Epistémica; Mulheres Afrodescendentes; Histórias de Vida; Epistemologias do SulResumo
Partindo de uma abordagem indutiva sustentada na metodologia de histórias de vida inspirada na Escola de Chicago e no seu uso de métodos antropológicos para estudar populações urbanas, com particular destaque para Robert Park e Ernest W. Burgess e potenciadas no contexto académico português por Elsa Lechner, este artigo apresenta uma reflexão crítica sobre injustiças epistêmicas e formas de lutar contra estas no cotidiano das mulheres afrodescendentes da área metropolitana de Lisboa. Para tanto, o artigo está organizado em três partes complementares: na primeira, será apresentada uma conceituação introdutória de injustiça epistêmica a partir de várias perspectivas teóricas feministas e descoloniais. A segunda parte explora três eixos de análise relevantes para a desvalorização do conhecimento produzido pela diáspora feminina negra. A terceira parte, usando estudos de caso baseados nas histórias de vida das mulheres afrodescendentes em Portugal, oferece exemplos concretos de estratégias de resistência epistemológica e política contra os efeitos adversos da injustiça epistêmica, particularmente no que diz respeito à questão racial e sexual. Em suas observações finais, a pesquisa conclui que a injustiça epistêmica condiciona a formação de processos de subjetividade. Apesar disso, as vozes de grupos estruturalmente racializados e discriminados, como o caso das mulheres afrodescendentes, podem ser potenciadas por meio de práticas de resistência política por elas desenvolvidas. Essas práticas permitem que essas mulheres se reapropriem de suas vidas e da liberdade de se definir a si mesmas.
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