Imagens, livros didáticos e colonialidade
DOI :
https://doi.org/10.23899/relacult.v3i3.535Mots-clés :
colonialidade, ensino de história, indígenas Guarani, livros didáticos, violência epistêmica.Résumé
O pensamento moderno europeu, sustentado no projeto intelectual do Iluminismo, acabou por instaurar as suas epistemologias nas colônias. Nesse processo, ainda vigente, fabricou-se uma concepção de conhecimento que se reclamava a si mesmo o direito de ser universal, válido e demonstrado. De tal forma, a subalternização e violência física dos impérios contra os povos originários, devia, inexoravelmente, apoiar-se em processos de violência epistémica, de “epistemicídios”, ou na imposição de certas racionalidades em detrimento das formas locais de produção de conhecimento. Assim, este trabalho parte da premissa que a violência também se mostra como um espaço de poder onde se reproduzem representações hegemónicas sobre o Outro indígena, desvalorizado, estereotipado e invisibilizado sistematicamente conforme os interesses das elites econômico-políticas. Da mesma forma, acreditamos que os legados epistêmicos da colonialidade são palpáveis na escola e, principalmente, nos livros didáticos, espaços etnográficos férteis para problematizar os efeitos do projeto colonizador e capitalista de ocidente. Destacamos a utilidade teórico-metodológica destes documentos para analisar a conformação de imaginários sobre os índios e a produção de uma versão da história que busca sedimentar uma identidade nacional determinada. Apresentaremos os resultados preliminares de uma pesquisa de mestrado, concentrada nas formas como é representado o indígena nos livros didáticos de História das escolas municipais da cidade de Foz do Iguaçu. A partir da seleção de algumas imagens obtidas nos livros buscamos problematizar estereótipos e equívocos sobre a questão indígena, e sua relação com os processos de violência contemporânea que sofre o povo indígena Guarani.
Références
ALBERNAZ, Adriana. Antropologia, histórias e temporalidades entre os Ava-guarani de Oco’y (PR). 404 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
ALVES, A.; OLIVEIRA, L.; BORELLA, R. Ligados.com: História, 5º ano: ensino fundamental: anos iniciais. São Paulo: Saraiva, 2014. 160 p.
ALVES, A.; OLIVEIRA, L.; BORELLA, R. Ligados.com: História, 4º ano: ensino fundamental: anos iniciais. São Paulo: Saraiva, 2014(a). 144p.
AMAN, R. 2010. El indígena “latinoamericano” en la enseñanza: representación de la comunidad indígena en manuales escolares europeos y latino-americanos. Estudios Pedagógicos, vol. 36, nº 2, p. 41-50, 2010. Disponível em: http://www.scielo.cl/pdf/estped/v36n2/art02.pdf. Acesso em: 31 nov. 2016.
ATIENZA, E.; VAN DIJK, T.A. Identidad social e ideología en libros de texto españoles de Ciencias Sociales. Revista de Educación, nº 353, p. 67-106, 2010. Disponível em: http://servidormanes.uned.es/mciud/bibliografia/documentos/articulo%20revista%20de%20educacion.pdf. Acesso em: 07 mar. 2017.
BARROS, D.; MARQUES, M.; PIZZATO, M.; LAGEMANN, T. Paraná povo e chão: história e geografia regional, 4º ou 5º ano. Curitiba: Base editorial, 2011. 200p.
BOURDIEU, P. A identidade e representação: elementos para uma reflexão crítica sobre a ideia de região. In: _____________. O poder simbólico, Lisboa, Difel, 1989. p. 107-132.
BRASIL. Lei nº 11.645, de 10 março de 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso em: 26 julho 2017.
BURKE, Peter. Visto y no visto: El uso de la imagen como documento histórico. Barcelona: Crítica, 2005. 272 p.
BRIGHENTI, C. A colonialidade e decolonialidade no ensino da história e cultura indígena. In: SOUZA, F. de; WITTMANN, L. Protagonismo indígena na História. Tubarão, Erechim: Copiart, UFFS, 2016. p. 231-254.
BRIGHENTI, C. Estrangeiros na própria terra: presença Guarani e Estados Nacionais. Florianópolis: EdUFSC; Chapecó: Argos, 2010. 282 p.
CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEl, R. (Org.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores: Universidad Central: Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos: Pontificia Universidad Javeriana: Instituto Pensar, 2007. 308 p.
CASTRO-GÓMEZ, S. Ciências sociais, violência epistêmica e o problema da “invenção do outro”. In: LANDER, E. (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciencias sociais. Perspectivas latinoamericanas. Buenos Aires: Coleccion Sur Sur, CLACSO, 2005. p. 80-87.
CHARTIER, R. O mundo como representação. Estudos Avançados, vol.5, nº.11, p. 172-191, 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ea/v5n11/v5n11a10.pdf. Acesso em: 14 jan. 2017.
CHARTIER, R. A história cultural entre práticas e representações. Trad. de Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difusão Editora, 1988, 244 p.
CHOPPIN, A. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa. São Paulo, vol. 30, nº. 3, sep./dez., p. 549-566, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a12v30n3.pdf. Acesso em: 15 out. 2016.
CUSICANQUI, Silvia. Ch’ixinakax utxiwa : una reflexión sobre prácticas y discursos. Buenos Aires: Tinta Limón, 2010. 80 p.
DE SOUZA SANTOS, B. Descolonizar el saber, reinventar el poder. Montevideo: Trilce, 2010. 111 p.
ESPINOSA, M. Ese indiscreto asunto de la violencia: modernidad, colonialidad y genocidio en Colombia. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEl, R. (Org.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores: Universidad Central: Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos: Pontificia Universidad Javeriana: Instituto Pensar, 2007. p, 267-288.
GOBBI, I. O que os livros didáticos dizem sobre os povos indígenas?. In: TASSSINARI, A.; ALBUQUERQUE, M.; GRANDO, B. (Orgs). Educação indígena: reflexões sobre noções nativas de infância, aprendizagem e escolarização. Florianópolis: Editora da UFSC, 2012, p. 223-242.
GONZALEZ CASANOVA, P. El colonialismo interno. In: ________. De la sociologia del poder a la sociologia de la explotación: pensar América Latina en el siglo XXI. Bogotá: Siglo del Hombre Editores y Clacso, 2009, p.129-156.
GUANAES, S. O Estado Nacional e as políticas desenvolvimentistas: o “cerco articulado” contra os Guarani na Tríplice Fronteira Sul. Tessituras: Revista de Antropologia e Arqueologia, Pelotas, vol. 3, nº 1, jan./jun, p. 307-336, 2005. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/tessituras/article/view/5553/4155. Acesso em: 11 set. 2016.
GRUPIONI, L. Imagens contraditórias e fragmentadas: sobre o lugar dos índios nos livros didáticos. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, vol. 77, nº 186, p. 422-437, 1996. Disponível em: http://rbep.inep.gov.br/index.php/rbep/article/view/1088/1062. Acesso em: 06 jul. 2016.
KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu : palavras de um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 729 p.
MIGNOLO, W. Capitalismo y geopolítica del conocimiento. In: DUBE, S.; DUBE, I.; MIGNOLO, W. (Eds.). Modernidades coloniales. México: Colegio de México, 2004. p. 227-255.
MONTEIRO, J. 1999. Armas e armadilhas: história e resistência dos índios. In: NOVAES, A. (Org.). A outra margem do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 238-248.
MUNAKATA, K. 2013. O livro didático: alguns temas de pesquisa. Revista Brasileira de História da Educação, Campinas, vol. 12, nº.3, set./dez., 2013, p. 179-197, 2013. Disponível em: http://rbep.inep.gov.br/index.php/rbep/article/view/1088/1062. Acesso em: 06 jul. 2016.
OLIVEIRA, T. Olhares que fazem a “diferença”: o índio em livros didáticos e outros artefatos culturais. Revista Brasileira de Educação, nº 22, jan./abr., 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n22/n22a04. Acesso em: 07 ago. 2016.
PACKER, Ian. Violações dos direitos humanos e territoriais dos Guarani no Oeste do Paraná (1946-1988): subsídios para a Comissão Nacional da Verdade. Centro de Trabalho Indigenista, 2013.
PRATT, M. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru: Edusc, 1999. 394 p.
PREFEITURA DE FOZ DO IGUAÇU. Coletânea do Município de História e Geografia – 2016. Foz do Iguaçu, 2016. 80 p.
QUIJANO, A. Colonialidad del poder y clasificación social. CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEl, R. (Org.). El giro decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo del Hombre Editores: Universidad Central: Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos: Pontificia Universidad Javeriana: Instituto Pensar, 2007. p 93-126.
RESTREPO, E.; ROJAS, A. Inflexión decolonial: fuentes, conceptos y cuestionamientos. Popayán, Colombia: Editorial Universidad del Cauca, 2010. 235 p.
SANTOS, K.; PAIVA, L.; BRAIT, R. Culturas e regiões do Brasil 4º e 5º anos. São Paulo: Global, 2014. 217 p.
SANTOS, S. C. dos. Índios e brancos no sul do Brasil: A dramática experiência dos Xokleng. Florianópolis: Edeme, 1973. 313 p.
SILVA, E. Ensino e sociodiversidades indígenas: possibilidades, desafios e impasses a partir da Lei 11.645 de 2008. Mneme: Revista de humanidades, vol.15, nº 35, jul./dez., p.21-37, 2014. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/mneme/article/view/7485/5816. Acesso em: 07 ago. 2016.
SILVA, A. Implantação da Lei 11.645/2008 no Brasil: um histórico de mobilizações e conquistas. In: SILVA, Edson; SILVA, Maria da Penha da, (orgs.). A temática indígena na sala de aula: reflexões para o ensino a partir da Lei 11.645/2008. Recife: Editora Universitária da UFPE, v. 1, 2013, p. 101-136.
SILVA, E; SILVA, M. As diversidades étnicas no Brasil: desafios às práticas escolares. In _______. A temática indígena na sala de aula: reflexões para o ensino a partir da Lei 11.645/2008. Recife: Editora Universitária da UFPE, v. 1, 2013, p. 181-209.
SPIVAK, G. Can the Subaltern Speak?. In: NELSON, C; GROSSBERG, L. (Eds.). Marxism and the Interpretation of Culture. Urbana: U of Illinois, 1988. p. 271-313.
TODOROV, T. A Conquista da América A questão do Outro. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 387 p.
YAÑES, C. Representaciones sociales de las identidades en los textos escolares de ciencias sociales en Colombia. Cadernos de Educação, nº 37, set./dic., p. 15 - 38, 2010. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1578/1464. Acesso em: 07 jul. 2017.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
Les auteurs qui publient dans cette revue acceptent les conditions suivantes :
Les auteurs conservent les droits d’auteur de leurs œuvres et accordent à RELACult le droit de première publication. Tous les articles sont simultanément publiés sous la licence Creative Commons Attribution 4.0 International (CC BY 4.0), qui permet le partage, la distribution, la copie, l’adaptation et l’utilisation commerciale, à condition que la paternité originale soit correctement attribuée et que la première publication dans cette revue soit mentionnée.
RELACult met l’ensemble de son contenu en accès libre, augmentant ainsi la visibilité et l’impact des travaux publiés. Les informations de contact fournies dans le système de soumission sont utilisées exclusivement pour la communication éditoriale et ne seront pas partagées à d’autres fins.