Desafios latinoamericanos e as esperanças do bem viver
ecologia de saberes, pós-extrativismo e autogestão territorial
DOI :
https://doi.org/10.23899/relacult.v9i2.2345Mots-clés :
bem viver, pós-extrativismo, ecologia de saberes, autogestãoRésumé
Crises múltiplas e interligadas marcam os tempos atuais, colocando em xeque o projeto da modernidade, tornando cada vez mais urgente realizar o que Boaventura de Sousa Santos chama de transição paradigmática que é tanto epistemológica quanto societal. O Bem Viver que é uma perspectiva ancestral dos povos originários, tem despontado na América Latina como uma alternativa sistêmica capaz de inspirar a construção de outros mundos possíveis. Entre os desafios para sua realização estão o modelo desenvolvimentista extrativista, a racionalidade instrumental e a concentração de poder que são fruto da colonialidade que se perpetua até hoje. O risco é que o Bem viver, assim como outras propostas, seja cooptado e desvirtuado pelo projeto da modernidade. Por isso, é preciso determinar sobre qual Bem Viver se está falando e quais suas características fundamentais, ainda que não exista um único caminho. A partir de uma perspectiva multirreferencial e da análise crítica de experiências que já estão sendo realizadas em outros campos, o presente ensaio propõe três pontos considerados estruturantes para o Bem Viver: i) uma nova racionalidade ambiental com base na ecologia de saberes, como “amefricanidade”, ii) um sistema econômico e produtivo não extrativista/pós-extrativista, e iii) modelos organizativos descentralizados territorialmente.
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