A(s) voz(es) de Ellen Oléria: multiplicidade, interseccionalidade e resistência em uma carreira musical
DOI :
https://doi.org/10.23899/relacult.v5i5.1490Mots-clés :
cultura, artes, estudos em cultura, ciências humanasRésumé
Neste trabalho, discutimos como se dão as dinâmicas identitárias na construção da carreira, no discurso musical e declarações públicas da cantora, compositora, instrumentista, apresentadora e atriz Ellen Oléria. A artista tem sido reconhecida por sua postura afirmativa como mulher, negra, lésbica, gorda, latina e vegana e por seu discurso antidiscriminatório. Procuramos analisar alguns posicionamentos políticos no discurso de Ellen Oléria em seus pronunciamentos públicos, bem como a forma como suas canções abordam questões de gênero, raça, sexualidade e classe. A pesquisa foi informada por epistemologias feministas. Além disso, propusemos uma abordagem interdisciplinar, integrando referenciais teóricos e metodológicos de disciplinas das ciências humanas. Em termos metodológicos, nos utilizamos da Análise do Discurso (AD), de orientação da escola francesa – em especial Michel Pêcheux e na leitura de sua obra feita por Eni Orlandi – e também de teorizações de Michel Foucault acerca do funcionamento do discurso e de sua abordagem. No texto, inicialmente, apresentamos uma discussão teórica acerca das identidades e abordamos as afirmações sobre múltiplas identidades culturais de Oléria. Em seguida, enfocamos os posicionamentos sobre raça e racismo da cantora, utilizando teorias sobre interseccionalidades para a compreensão de como diversos marcadores sociais, como raça, gênero, classe e sexualidade, se inter-relacionam na vivência e produção de Ellen. Após isso, abordamos a obra de Ellen Oléria como uma forma de afirmação, ou seja, como música identitária e como esta pode atuar como uma “voz” que “representa” grupos subalternizados e, ao mesmo tempo, constrói uma autorrepresentação da cantora. Por fim, discutimos como as intersecções dos múltiplos processos discriminatórios experimentados por Oléria representam também possibilidades de resistência e de transformação da ordem social por meio de sua música.
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