Emancipar meninas? A leitura literária para adolescentes.
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v5i4.1124Palabras clave:
Acervo literário, Adolescentes, Maus tratos emocionais, Leitura na Escola.Resumen
No artigo apresento a composição de um acervo literário disponibilizado a um projeto de leitura para adolescentes escolarizadas, cujo foco é discutir maus tratos emocionais ou violência psicológica. Ao criar um programa de leituras para meninas em que a liberdade para pensar e escolher fosse o meio e o fim, reuni um grupo de livros que têm em comum, temas ou protagonistas meninas, mocinhas ou mulheres que extrapolam os clássicos papéis destinados culturalmente ao gênero feminino. Na construção dessas personagens e tramas, os autores e autoras apresentam desfechos inusitados, inteligentes, bem humorados, afetivamente includentes e com lógicas não violentas. No trabalho, apresento o acervo produzido por esse trabalho de pesquisa e intervenção. Os maus tratos emocionais são um fenômeno caracterizado por um constante e reiterado desrespeito ao outro. Muitas vezes sutil, se manifesta pelo desprezo, desqualificação ou depreciação de gostos, escolhas e competências, através de falas, comentários ou mesmo argumentações que ridicularizam, desabonam e desacreditam a imagem do outro de forma direta ou indireta, publicamente, na presença e mesmo na ausência do envolvido. É uma violência que, em parte considerável das vezes, abre portas para outras manifestações e formas de violência como violência física, moral, patrimonial, sexual. Na elaboração desse "conceito", busquei conhecer pesquisas, artigos e palestras desenvolvidas por pesquisadores na área.
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Abramovich, 1989: Textos literários infantis são bobices e gostosuras...
Benjamin, 1994: “contar história sempre foi a arte de contá-la de novo” e “quanto mais o ouvinte se esquece de si mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido”. O pesquisador acredita que é assim que “se teceu a rede em que está guardado o dom narrativo”. Do oral, as histórias migraram para a forma escrita e, também por isso, produziram sua longevidade em nossa memória cultural.
Calvino, 1993: "Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer".
Meireles, 1951: “um livro de literatura infantil é, antes de mais nada, uma obra literária. Nem se deveria consentir que as crianças frequentassem obras insignificantes, para não perderem tempo e prejudicarem seu gosto”.
Darnton, 1996: O objetivo das narrativas – e a presença de violência nelas – não era o de prevenir as crianças a respeito da desobediência aos pais e nem mesmo de protegê-las do contato precoce com a sexualidade adulta. Por não serem destinadas especificamente a crianças, essas narrativas retratavam um mundo de brutalidade nua e crua e, desse modo, aparentemente, apenas ajudavam os habitantes de aldeias camponesas a atravessar as longas noites de inverno. Sua matéria? Os perigos do mundo, a crueldade, a morte, a fome, a violência dos homens e da natureza.
Corso, 2006: Fadas no Divã.
Gonzaga, 2011: “traços definidores do que hoje se considera um texto clássico” e a primeira característica é a atemporalidade, ou seja, clássica é uma obra que ultrapassa “o seu tempo, persistindo de alguma maneira na memória coletiva e sendo atualizada por sucessivas leituras, no transcurso da história”.
Kehl, 2006: “é um dos recursos de que as crianças dispõem para desenhar o mapa imaginário que indica seu lugar na família e no mundo” e contar histórias é o “papel geracional que cabe aos pais frente aos filhos”.
Kehl: 2006: “os contos populares, pré-modernos, talvez fizessem pouco mais do que nomear os medos presentes no coração de todos, adultos e crianças, que se reuniam em volta do fogo enquanto os lobos uivavam lá fora, o frio recrudescia, a fome era um espectro capaz de ceifar a vida dos mais frágeis, mês a mês”
Kehl, 2006: As narrativas orais – forma milenar de transmissão do conhecimento – são consideradas “técnicas de transmissão oral” que “apelam ao poder imaginativo dos pequenos ouvintes” e são capazes de conectá-las ao “elemento maravilhoso” e “à multiplicidade de sentidos que caracterizam o mito em todas as culturas e em todas as épocas”, formando um “acervo comum de histórias, através do qual a humanidade reconhece a si mesma” (KEHL, 2006, p. 16).
Guimarães Rosa, 1992: Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam” (...). E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo, e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vinha-lhe correndo, em pós.
Todorov, 1975: Gêneros literários são precisamente essas escalas através das quais a obra se relaciona com o universo da literatura.
Todorov, 1975: o texto literário “não entra em uma relação referencial com o ‘mundo’ como o fazem frequentemente as frases de nosso discurso cotidiano” e ele “não é representativo de outra coisa senão de si mesmo”.
Todorov, 2012: a literatura tem um poder imenso: ela pode “nos estender a mão quando estamos profundamente deprimidos, nos tornar ainda mais próximos dos outros seres humanos que nos cercam, nos fazer compreender melhor o mundo e nos ajudar a viver” (p. 76). Como a filosofia e as ciências humanas, a literatura é, para Todorov, “pensamento e conhecimento do mundo psíquico e social em que vivemos” e a realidade que a literatura aspira compreender é, simplesmente, “a experiência humana” (p. 77).
UNESCO, 2015: Violência de gênero no ambiente escolar representada por assédio verbal ou sexual, abuso sexual, punição física e bullying, essas formas de violência podem resultar em um aumento do absenteísmo, fraco desempenho, desistência escolar, baixa autoestima, depressão, gravidez e infecções sexualmente transmitidas com impacto negativo na aprendizagem e no bem-estar de meninas e meninos.
Benjamin, 1994: os contos eram capazes de “dar um bom conselho quando ele era difícil de obter” e podem ser considerados como ajuda preciosa “em caso de emergência”. Complementa: “Essa emergência era a emergência provocada pelo mito”.
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