“PERGUNTE À TERRA E ESCUTE O QUE ELA IRÁ TE DIZER”: VOZES NEGRAS NA ENCRUZILHADA DE DESCOLONIZAÇÃO ANTROPOLÓGICA

Autores/as

  • Hélen de Oliveira Soares Jardim Universidade Federal de Pelotas https://orcid.org/0000-0001-8944-4799
  • Dulce Mari da Silva Voss Universidade Federal do Pampa

DOI:

https://doi.org/10.23899/xajaw830

Palabras clave:

Antropologia; pesquisa; mulheres negras; terreiros.

Resumen

Este ensaio teórico aborda a pesquisa antropológica junto às comunidades de terreiro na região da fronteira Brasil-Uruguai enquanto prática de pesquisa descolonial. Propõe-se a descolonização teórico-epistemológica, política, estética e ética do campo da Antropologia mediante a produção de pesquisas que contemplem estudos de intelectuais negros/as, não só do campo antropológico, como também de autoras/es ativistas dos movimentos negros, em vista de colocar em discussão a perspectiva eurocêntrica, branca, machista e elitista que sustenta a ciência antropológica e a posiciona como conhecimento hegemônico. Colonialidade do saber e do poder que impõe a posição de subalternidade aos saberes, poderes e fazeres de sujeitos e coletividades negros/as e pessoas pretas. Compreende-se que a descolonização da Antropologia requer o deslocamento dessa relação opressiva do poder-saber científico hegemônico. Um giro epistemológico antirracista e antissexista na prática da pesquisa antropológica que se dá a partir das epistemologias negras e dos saberes, poderes e fazeres das coletividades que criam e recriam sua própria cultura baseada na preservação da ancestralidade, de valores enraizados na ligação com a terra de origem e a vida comunitária, como os povos dos terreiros. Por meio do engajamento epistêmico e político contra hegemônico, as cosmovisões negras tornam-se fonte de inspiração e expressão da produção científica renovada através da pesquisa antropológica, forças de subversão do pacto da branquitude. Nesse deslocamento político, estético, ético e teórico-epistêmico, de produção e disseminação de saberes negros insurgentes, mulheres pretas têm assumido o protagonismo enquanto autoras e ativistas. Afirma-se, assim, a necessidade de uma ação investigativa que propicie a produção de conhecimentos também no campo da Antropologia, capaz de repensá-la e reescrevê-la sob perspectiva contra hegemônica que nasce nas culturas tradicionais africanas e afro-brasileiras e se multiplica sob o viés insurgente de autores/as negros/as.

Biografía del autor/a

  • Hélen de Oliveira Soares Jardim, Universidade Federal de Pelotas

    Assistente Social, Especialista em Docência na Educação Superior (Universidade de São Braz), Especialista em Educação e Diversidade Cultural. Mestranda no Programa de Pós Graduação em Ensino (Universidade Federal do Pampa), bolsista da Capes (2021- atual) Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Philos Sophias. Linha de Pesquisa Educação e Filosofias Contemporâneas, vinculado à Universidade Federal do Pampa. Atua como Pesquisadora Associada na ABPN ( Associação Brasileira de Pesquisadores Negros). Realiza pesquisa sobre os seguintes temas: Filosofias da Diferença, Foucault, Negritudes, Religiosidades Afro-brasileiras, Mulheres Negras

  • Dulce Mari da Silva Voss, Universidade Federal do Pampa

    Doutora em Educação (2012), Mestra em Educação (1998), Especialista em Educação (1992) e Graduada em Estudos Sociais com Habilitação em História (1986). Em 2023, Realizou Estágio Pós-Doutoral junto ao Programa de Pós-Graduação Doutorado em Educação na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) sob supervisão do professor Dr. Jefferson Mainardes, no qual desenvolveu a pesquisa "POLÍTICAS EDUCACIONAIS CONTEMPORÂNEAS: PRÁTICAS DE INTERPRETAÇÃO E TRADUÇÃO NA CONSTRUÇÃO/DESCONSTRUÇÃO TEÓRICO-EPISTEMOLÓGICA DO NEOCONSERVADORISMO". Sua experiência na docência na Educação Básica perdurou de 1987 a 2002, período em que atuou em todos os níveis do ensino, da Educação Infantil ao Ensino Médio, em escolas públicas municipais e estaduais do RS. Ingressou na carreira docente na Educação Superior em 1999 em universidades comunitárias do RS (UNISC e UNIVATES). De 2006 até o presente, atua como docente associada da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA/Campus Bagé - RS) na área da Educação nos Cursos de Graduação - Licenciaturas, onde, também, foi idealizadora e proponente do Curso de Especialização em Educação e Diversidade Cultural, exercendo a função de coordenadora de curso de 2014 a 2017 e em 2019. Na UNIPAMPA/Campus Bagé. A partir de 2017 tornou-se docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Mestrado Acadêmico (de 2017 em diante) e Doutorado Acadêmico ( a contar de 2025). Líder e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Philos Sophias, vinculado à UNIPAMPA. É membra do Comitê Científico do Instituto Conexão Sociocultural (CLAEC). Integra o grupo de pesquisadores/as da Red Latino-Americana de Estudios Epistemológicos en Política Educativa (ReLePe). Pesquisadora filiada à Associação Nacional de Pesquisadores/as da Educação (ANPED), Associação Brasileira de Currículo (ABDC), Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação (ANFOPE). Autora e organizadora do livro "Cartografias, Desterritórios e Maquinações em Educação" (Editora Bordô Grená, 2019) e do livro "Mulheres escrevendo e pensando com mulheres: filosofias, infâncias e educação" (Nefi/UERJ, 2022). A partir de 2025 passou a compor a equipe editorial da Revista Olhar de Professor (UEPG). Trabalha no ensino, na extensão e na pesquisa sob enfoque teórico-epistemológico pós-estruturalista, das filosofias da diferença, das epistemologias insurgentes e decoloniais em estudos que abrangem temáticas como movimentos sociais, mulheres, povos originários, infâncias, juventudes, negritudes, literaturas, docências, currículo, formação de professoras/es, artes e no campo de análise de políticas educacionais.

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Publicado

2025-04-13

Número

Sección

Dossiê - Convergências Multidisciplinares nas Ciências Humanas: Novos Paradigmas para um Mundo em Transformação

Cómo citar

“PERGUNTE À TERRA E ESCUTE O QUE ELA IRÁ TE DIZER”: VOZES NEGRAS NA ENCRUZILHADA DE DESCOLONIZAÇÃO ANTROPOLÓGICA. (2025). RELACult - Revista Latino-Americana De Estudos Em Cultura E Sociedade, 11. https://doi.org/10.23899/xajaw830