Descolonização do Imaginário e a Instituição Universitária: caminhos possíveis na reconfiguração de representações estereotipadas sobre os indígenas brasileiros
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v3i3.502Palavras-chave:
descolonização, imaginário popular, indígenas, políticas afirmativas, pós-colonialismoResumo
Este estudo visa refletir sobre o papel das instituições universitárias e seus desafios na desconstrução de discursos coloniais que, ainda na contemporaneidade, se mantêm arraigados junto ao imaginário popular da sociedade brasileira promovendo, além da reprodução de representações alienantes (BHABHA, 1998), sobre a população indígena, sua exclusão e silenciamento. O indígena na sociedade brasileira ocupa um “não-lugar” (AUGÉ, 1994), o lugar da invisibilidade, da marginalidade, do entre fronteiras, o lugar do outro, ou como se refere Trouillot (2003), está posicionado na “fenda selvagem”. As instituições universitárias, por meio de políticas afirmativas efetivas e da elaboração de novas epistemologias baseadas nos saberes não-oriundos do colonialismo ocidental, por exemplo, podem potencializar o desenvolvimento de processos de descolonização de pensamentos e imaginários. Suas ramificações podem gerar transformações não apenas no espaço universitário, mas na sociedade de forma mais ampla, tornando-a mais diversa, inclusiva e igualitária ao fornecer possibilidades para reverter aquele quadro composto por estereótipos, invisibilidade e discriminação que vem sendo vivenciado pela população indígena desde a colonização. Seguindo por esta perspectiva, buscarei demonstrar, além das contribuições das instituições universitárias para o processo de descolonização dos imaginários, pensamentos e saberes, as complexidades empreendidas em processos de pós-colonialismo que trazem consigo conflitos e disputas, neste caso pela reconfiguração de representações sobre os povos indígenas, travados no campo simbólico e refletidos no campo social.
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