Lima Barreto Como Pensador Social

Breves considerações sobre o lugar do negro na Primeira República

Autores

  • Silvana Mansano Universidade Estadual de São Paulo "Júlio de Mesquita Filho"

DOI:

https://doi.org/10.23899/y150bk96

Palavras-chave:

português

Resumo

Este artigo tem por objetivo analisar alguns pontos sobre o lugar reservado ao negro após a abolição da escravatura. Sob o olhar do escritor Lima Barreto, analisaremos como o processo modernizador ocorrido na Primeira República (1889-1930) expurgou o negro recém liberto para os arredores das cidades. A partir deste recorte, veremos como as favelas foram formadas e como o escritor nos mostrou, em muitas de suas obras, que esta suburbanização foi se moldando para se transformar num elemento de segregação racial. Lima Barreto denunciou que os negros foram abandonados pelo poder público, ao mesmo tempo em que não encontraram a acolhida da sociedade. As primeiras formações do que hoje conhecemos como favelas estão descritas em suas obras e, por isso, faremos aqui o resgate de como elas surgiram. Para isso, além de citar algumas obras, traremos um conto específico do autor - O Moleque - em que mostraremos como o escritor constrói a narrativa e lança, como protagonistas, dois personagens negros. Utilizando o método de análise sociológica proposto por Antonio Candido (2006), buscaremos fazer emergir as peculiaridades da forma de expressão de Lima Barreto, para entendermos a estruturação histórica descrita, suas dinâmicas e contradições. Como resultado da pesquisa, mostraremos como a literatura pode ser uma importante fonte de compreensão dos dilemas da sociedade em uma determinada época e, ainda, que Lima Barreto foi um importante pensador social.

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Publicado

2025-04-13

Edição

Seção

Dossiê - Convergências Multidisciplinares nas Ciências Humanas: Novos Paradigmas para um Mundo em Transformação

Como Citar

Lima Barreto Como Pensador Social: Breves considerações sobre o lugar do negro na Primeira República. (2025). RELACult - Revista Latino-Americana De Estudos Em Cultura E Sociedade, 11. https://doi.org/10.23899/y150bk96