Desafios latinoamericanos e as esperanças do bem viver

ecologia de saberes, pós-extrativismo e autogestão territorial

Autores

DOI:

https://doi.org/10.23899/relacult.v9i2.2345

Palavras-chave:

bem viver, pós-extrativismo, ecologia de saberes, autogestão

Resumo

Crises múltiplas e interligadas marcam os tempos atuais, colocando em xeque o projeto da modernidade, tornando cada vez mais urgente realizar o que Boaventura de Sousa Santos chama de transição paradigmática que é tanto epistemológica quanto societal. O Bem Viver que é uma perspectiva ancestral dos povos originários, tem despontado na América Latina como uma alternativa sistêmica capaz de inspirar a construção de outros mundos possíveis. Entre os desafios para sua realização estão o modelo desenvolvimentista extrativista, a racionalidade instrumental e a concentração de poder que são fruto da colonialidade que se perpetua até hoje. O risco é que o Bem viver, assim como outras propostas, seja cooptado e desvirtuado pelo projeto da modernidade. Por isso, é preciso determinar sobre qual Bem Viver se está falando e quais suas características fundamentais, ainda que não exista um único caminho. A partir de uma perspectiva multirreferencial e da análise crítica de experiências que já estão sendo realizadas em outros campos, o presente ensaio propõe três pontos considerados estruturantes para o Bem Viver: i) uma nova racionalidade ambiental com base na ecologia de saberes, como “amefricanidade”, ii) um sistema econômico e produtivo não extrativista/pós-extrativista, e iii) modelos organizativos descentralizados territorialmente.

Métricas

Carregando Métricas ...

Biografia do Autor

Bruno Fernandes, Universidade de São Paulo (USP)

Mestre em Ciências; Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais (PPGRF/ESALQ-USP);  Universidade de São Paulo (USP); Piracicaba, São Paulo, Brasil; bruno.pira@usp.br .

Isabela Kojin Peres, Universidade de São Paulo (USP)

Mestre em Ciências, Programa Interunidades em Ecologia Aplicada (PPGI-EA/USP), Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, Brasil; isakojin@gmail.com ;

Lorena Gebara Benetton, Universidade de São Paulo (USP)

Bacharel e Licenciada em Ciências Biológicas (USP), São Paulo, São Paulo, Brasil; lorena.gebara@usp.br

Referências

ACOSTA, A. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Elefante, 2016.

ACOSTA, A; BRAND, U Pós-extrativismo e decrescimento: saídas do labirinto capitalista. São Paulo: Elefante, 2018.

ALCANTARA, L. C. S. SAMPAIO, C. A. C. Bem Viver como paradigma de desenvolvimento: utopia ou alternativa possível? Desenvolv. Meio Ambiente, v. 40, p. 231-251, 2017.

ALVES, D. M. G., ANDRADE, D.l F.; BARBOSA, C; BIASOLI, S A. ; BIDINOTO, V M. ; BRIANEZI, T; CARRARA, M.; COATI, A. P. ; COSTA-PINTO, A. B.; FERREIRA, L; LUCA, A. Q. de; MACHADO, J. T.; NAVARRO, S. M; PORTUGAL, S; RAIMO, A. A. ; SACCONI, L. V; SIM, E. C; SORRENTINO. Em Busca da Sustentabilidade Educadora Ambientalista. Ambientalmente Sustentable, v.1, n. 9-10, 2010.

ARCANJO, M. A. S; OLIVEIRA, A. L. M. A criação da secretaria nacional de economia solidária: avanços e retrocessos. Nº 13, Ano 11, 2017.

BAREMBLITT, G. F. Compêndio de Análise Institucional e outras correntes: teoria e prática. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos, 1992.

BIASOLI, S. A. Institucionalização de políticas públicas de educação ambiental: subsídios para a defesa de uma política do cotidiano. 2015. 226p. (Doutorado em Ciências) – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2015.

BOOKCHIN, M. Ecologia Social e outros ensaios. 2ª Ed. Rio de Janeiro, RJ. Rizoma, 2015. 183p, 2015.

BOOKCHIN, M. Sociobiologia ou Ecologia Social? . Ed. Rio de Janeiro, RJ Achiamé, 1990. 87p, 1990.

CALDART, R. S; PEREIRA, I. B.; ALENTEJANO, P.; FRIGOTTO, G. Dicionário da educação do campo. 2. ed. Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio/ São Paulo: Expressão Popular, 2012.

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO - CNE. Diretrizes Curriculares da Pedagogia da Alternância na Educação Básica e na Educação Superior, 2020. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=170051-pcp022-20-1&category_slug=janeiro-2021-pdf&Itemid=30192.

DAGNINO, R. Tecnologia Social: Contribuições conceituais e metodológicas. Campina Grande: EDUEPB, 2014.

DAGNINO, R. in Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento / Fundação Banco do Brasil – Rio de Janeiro: 2004.

DARDOT, P; LAVAL, C. Comum: ensaio sobre a revolução no século XXI. Echalar, Mariana. São Paulo: Editora Boitempo, 2017. 647, 2017.

DOWBOR, L. A era do capital improdutivo – Autonomia Literária, Outras Palavras, São Paulo 2017, 312p. – ISBN 978-85-69536-11-6.

FOSTER, J. B. Marxismo e Ecologia: fontes comuns de uma grande transição. Tradução, de Pedro Bocca e Lúcio Flávio de Almeida, da versão em inglês recém-publicada na revista Monthly Review, v. 67, n. 7, 2015.

FREIRE, P. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 1977.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GONZALEZ, L. A categoria político-cultural de amefricanidade. Rv. TB. Rio de Janeiro, 92-93; 69/82, jan-jun, 1988

GUDYNAS, E. Buen vivir: Germinando alternativas al desarrollo. América Latina em Movimento - ALAI, nº 462: 1-20; fevereiro, Quito, 2011.

GUDYNAS, E. Transições ao pós-extrativismo. in Descolonizar O Imaginário: Debates Sobre Pós-Extrativismo E Alternativas Ao Desenvolvimento. São Paulo: Fundação Rosa De Luxemburgo. Zhouri, Andréa (Org), 2016.

GUSFIELD, J. R. Community: a critical response. New York: Harper & Row Publications. 1995.

HAESBAERT, R. Território e descolonialidade : sobre o giro (multi) territorial/de(s)colonial na América Latina / Rogério Haesbaert. - 1a ed. - Ciudad Autónoma de Buenos Aires : CLACSO ; Niterói : Programa de Pós-Graduação em Geografía ; Universidade Federal Fluminense, 2021.

HARAWAY, D. SF: Science Fiction, Speculative Fabulation, String Figures, So Far. Ada: A Journal of Gender, New Media, and Technology, No.3, 2013.

HARDT, M; NEGRI, A. Declaração: isto não é um manifesto. Tradução: Carlos Szlak. São Paulo: n-1 Edições, 2014.

IBÁÑEZ, M. R. Ressignificando a cidade colonial e extrativista: Bem Viver a partir de contextos urbanos. in Descolonizar O Imaginário: Debates Sobre Pós-Extrativismo E Alternativas Ao Desenvolvimento. São Paulo: Fundação Rosa De Luxemburgo. Zhouri, Andréa (Org), 2016.

KOPENAWA, D; ALBERT, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras. 729 p, 2015.

KRENAK, A. Caminhos para a cultura do bem viver. Org. Bruno Maia, 2020.

KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Editora: Companhia das Letras, 2019.

LACERDA, R. F. & FEITOSA, S. F. Bem Viver: Projeto U-tópico e De-colonial. Interritórios | Revista de Educação Universidade Federal de Pernambuco Caruaru, BRASIL | V.1 | N.1 [2015]

LEFF, Enrique. Epistemologia Ambiental . São Paulo, SP: Cortez, 2000. 240 p

LEFF, E. Racionalidade Ambiental: a reapropriação social da natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006..

LEFF, E. Saber Ambiental. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

LÖWY, M. O que é o Ecossocialismo? São Paulo: Cortez, 2014.

MACHADO, J. M. H.; MARTINS, W. de J.; SOUZA, M. do S. de; FENNER, A. L. D.; SILVEIRA, M.; MACHADO, A. de A. Territórios saudáveis e sustentáveis: contribuição para saúde coletiva, desenvolvimento sustentável e governança territorial. Com. Ciências Saúde. p. 243‑249. 2017

OTTERLOO, A. M. C. A tecnologia a serviço da inclusão social e como política pública. inREDE DE TECNOLOGIA SOCIAL – RTS (Brasil) (Org.) Tecnologia Social e Desenvolvimento Sustentável: Contribuições da RTS para a formulação de uma Política de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação – Brasília/DF : Secretaria Executiva da Rede de Tecnologia Social (RTS), 2010. 98 p.

PORTO-GONÇALVES, C. W. Abya Yala.Enciclopédia Latino Americana, Sem data. Disponível em: http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/a/abya-yala.

QUIJANO, A. Bem Viver: Entre, o “desenvolvimento” e a “des/colonidade” do poder. R. Fac Dir. UFG, v. 37, n. 1, p. 46-47, jan/jun 2013.

QUIJANO, A: Colonialidad del poder, eurocentrismo y América Latina. In LANDER, Edgardo (Comp.) La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Buenos Aires: Clacso, 2000.

REDE BRASIL ATUAL. Economia solidária movimenta cerca de R$ 12 bilhões ao ano no Brasil, 2019. Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/economia/economia-solidaria-movimenta-cerca-de-r-12-bilhoes-ao-ano/

RAYNAUT. C. ”Interdisciplinaridade: mundo contemporâneo, complexidade e desafios à produção e aplicação de conhecimentos”. In: Philippi et al. Interdisciplinaridade em Ciência, Tecnologia e Inovação. Cap.2, 2011.

RUFINO, L. Pedagogia das encruzilhadas Exu como Educação. Revista Exitus, [S. l.], v. 9, n. 4, p. 262 - 289, 2019a.

RUFINO, L. Pedagogia das encruzilhadas. Rio de Janeiro. Mórula Editorial. 2019b. 164p.

SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: Das linhas globais a uma ecologia de saberes. Novos Estudos, 2007.

SANTOS, B. S. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. Revista crítica de ciências sociais, 63, Outubro 2002: 237-280, 2002.

SANTOS, M. Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006.

SHIVA, V. Monoculturas da Mente: perspectivas da biodiversidade e da biotecnologia. São Paulo: Gaia, 2003.

SORRENTINO, M. MORAES, F.C. Agroecologia, movimentos sociais e Bem Viver. In: Educação, agroecologia e bem viver: transição ambientalista para sociedades sustentáveis. SORRENTINO, M.; RAYMUNDO, M.H.A.; PORTUGAL, S.; MORAES, F.C.; Tipo de trabalho: Trabalho completo 10 SILVA, R. F. (org). Piracicaba, SP: MH-Ambiente Natural, 2017. p.135-48

SORRENTINO, M. NERY-SILVA, A.C. Políticas públicas de educação ambiental (EA) e gestão do meio ambiente no brasil. REVISTA RELICÁRIO • Uberlândia • v. 6 n. 11 • jan./jun. 2019 • ISSN 2358-8276, 2019.

SVAMPA, M. As fronteiras do neoextrativismo na América Latina: conflitos socioambientais, giro ecoterritorial e novas dependências. Tradução de Lígia Azevedo. São Paulo: Elefante, 2019.

TROVARELLI, R. A. A transição para sociedades sustentáveis: uma abordagem a partir de comunidades escolares. 2016. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2016. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-07112016-112256

TYGEL, D. Desafio local-global da economia solidária p. 39 - 50. In: Educação, agroecologia e bem viver: transição ambientalista para sociedades sustentáveis/ Marcos Sorrentino; Maria Henriqueta Andrade Raymundo; Simone Portugal; Fernanda Corrêa de Moraes; Rafael Falcão da Silva (org). Piracicaba, SP: MH-Ambiente Natural, 2017.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ( UEAS - UNIFESP). Arranjos cooperativos e desenvolvimento local e regional, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wDmYR9DbiPk&t=6183s&ab_channel=UAESUNIFESP

VERDEJO, M. E. Diagnóstico rural participativo: guia prático DRP. Brasília: MDA/Secretaria da Agricultura Familiar, 2010.

TAVARES, E. A nova onda extrativista contra a América Latina. 5 de Agosto de 2019. Disponívem em: https://iela.ufsc.br/noticia/nova-onda-extrativista-contra-america-latina

WALLACE, R. Pandemia e agronegócio: doenças infecciosas, capitalismo e ciência. São Paulo: Elefante, 2020. pp. 608.

Downloads

Publicado

2023-12-16

Como Citar

Fernandes, B., Peres, I. K., & Benetton, L. G. (2023). Desafios latinoamericanos e as esperanças do bem viver: ecologia de saberes, pós-extrativismo e autogestão territorial. RELACult - Revista Latino-Americana De Estudos Em Cultura E Sociedade, 9(2). https://doi.org/10.23899/relacult.v9i2.2345

Edição

Seção

Artigos - Fluxo Contínuo