Aspectos gerais de uma antropologia da condição histórica e política do homem em Hannah Arendt
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v5i4.1322Palavras-chave:
Hannah Arendt, História, Filosofia, Política.Resumo
Hannah Arendt faz um relato histórico das condições da existência humana com o intuito de responder à pergunta “o que estamos fazendo? ”. O intuito desse pensamento é analisar de que maneira a mudança dessas condições acabou afetando a vida do homem e a contemporaneidade. A questão da conduta humana continua sendo uma interrogação nos tempos atuais. Assim, a filosofia de Arendt se mantém atual para pensarmos a sociedade contemporânea, visto que seguimos em um crescente das mesmas construções sociais originadas na modernidade. Hannah Arendt apresenta em sua obra aspectos muito importantes sobre a condição política e histórica do homem. Nesse sentido, esta investigação pretende demonstrar a importância das faculdades da memória e do perdão, assim como da capacidade de cumprir promessas no contexto histórico e político para a garantia da pluralidade e dignidade humana.
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Referências
“o que estamos fazendo? ” (ARENDT, 2017, p. 6, grifo meu)
“no centro das mais variadas expressões da cultura: mito, literatura, ciência, filosofia, ethos e política. ” (VAZ, 1991, p. 9, grifo do autor)
Para conservar essa superioridade ideal, a pólis tem de incorporar certos princípios de ordem legítima, sem os quais não teria raison d’être justificável. Todo o pensamento político grego gira em torno do debate sobre quais seriam exatamente esses princípios, e como se poderia traduzi-los no mundo prático. (MORRALL, 1985, p.7, grifo do autor)
“sujeito às necessidades da vida, nem ao comando de outro e nem a comandar” (ARENDT, 2017, p.39)
É verdade que essa igualdade no domínio político tem muito pouco em comum com o nosso conceito de igualdade: significava viver entre pares e ter de lidar somente com eles, e pressupunha a existência de “desiguais” que, de fato, eram sempre a maioria da população na cidade-estado. (ARENDT, 2017, p.39 – 40, grifo do autor)
“apresentada como movendo-se a si mesma [...] e como ‘princípio de movimento’” (VAZ, 1991, p.37, grifo do autor)
A partir disso, os filósofos, segundo Arendt (2017, p.22) “haviam encontrado um princípio superior para substituir o princípio que governava a pólis”.
“num registro desalentador de guerras à ponta de espadas entre cidades, com o extermínio como castigo da derrota. ” (MORRALL, 1991, p.19).
A partir disso, os filósofos tomaram uma posição de “apolitia filosófica” (ARENDT, 2017, p.18, grifo do autor)
Nenhuma obra de mãos humanas pode igualar em beleza e verdade o kosmos físico, que revolve em torno de si mesmo, em imutável eternidade, sem qualquer interferência ou assistência externa, seja humana, seja divina. Essa eternidade só se revela a olhos mortais quando todos os movimentos e atividades humanas estão em completo repouso. (ARENDT, 2017, p.19, grifo do autor)
“a vida de deleite dos prazeres do corpo, na qual o belo é consumido tal como é dado; a vida dedicada aos assuntos da pólis, na qual a excelência produz belos feitos; e a vida do filósofo, dedicada à investigação e contemplação das coisas eternas” (ARENDT, 2017, p.16, grifo do autor).
É que o viver parece ser comum também aos vegetais e o que é procurado é o viver peculiar do Humano. Tem, pois, de se fazer uma abstração da função vital de nutrição e de capacidade de crescimento. Segue-se uma certa função vital perceptiva, a qual parece ser comum ao cavalo, ao boi e a todo ente vivo. Resta, então, uma certa forma de vida ativa inerente na dimensão da alma que no Humano é a capacitante de razão. A possibilidade capacitante de razão do Humano manifesta-se de duas maneiras: Uma, através da obediência ao sentido orientador, a outra, quando já o possui, através da ativação do seu poder de compreensão. (ARISTÓTELES, 2009, p.27)
”O sumo bem é o mais belo e mais próximo do que é divino” (ARISTÓTELES, 2009, p.18)
“para determinar a essência de uma coisa, é preciso situá-la primeiro no seu gênero, ou seja, na classe à qual ela pertence, aquelas cujos integrantes compartilham as mesmas determinações essenciais” (NOVAES, 2009, p.38).
A vida contemplativa supõe uma certa liberdade da alma. Pois, como diz Gregório, a vida contemplativa nos dá uma certa liberdade do espírito, aplicado às coisas eternas, sem cogitar das temporais. E Boécio: As almas humanas hão de necessariamente ser mais livres, quando se mantêm na contemplação do pensamento divino; menos livres, ao contrário, quando recaem no mundo dos corpos. Por onde é claro, que a vida ativa não dá diretamente regras, à vida contemplativa; mas, dispondo para ela, ordena a prática de certos atos, servindo assim, antes, à vida contemplativa do que lhe dando regras. Por isso diz Gregório, que a vida ativa é considerada escravidão e a contemplativa, a liberdade. (AQUINO, 1936, Questão 182, art. 1, Resposta à Segunda Objeção)
O problema da natureza humana, [...] de Agostinho, parece insolúvel, tanto em seu sentido psicológico individual como em seu sentido filosófico geral. É altamente improvável que nós, que podemos conhecer, determinar e definir as essências naturais de todas as coisas que nos rodeiam e que não somos, sejamos capazes de fazer o mesmo a nosso próprio respeito [...] se temos uma natureza ou essência, então certamente só um deus poderia conhecê-la e defini-la. (ARENDT, 2017, p.13)
“a sociedade exige sempre que os seus membros ajam como se fossem membros de uma enorme família que tem apenas uma opinião e um único interesse. ” (ARENDT, 2017, p.48).
Do ponto de vista da Antropologia, o que sobreleva é a relação do homem com a natureza por meio do trabalho e a humanização sob o aspecto de autocriação do homem no processo de transformação da natureza pelo trabalho. As mudanças nas formas de trabalho constituem os indicadores básicos da mudança das relações de produção e das formas sociais em geral do intercurso humano. O trabalho é, portanto, o fundamento antropológico das relações econômicas e sociais em geral. (MARX, 2013. p.48)
“Os homens produzem os seus próprios meios de subsistência” (MARX; ENGELS, 2001, p.24)
“pensar o que estamos fazendo” (ARENDT, 2017, p.6, grifo do autor)
Compreende mais que as condições sob as quais a vida foi dada ao homem. Os homens são seres condicionados, porque tudo aquilo com que eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua existência. (ARENDT, 2017, p.11)
o trabalho, a obra e a ação (ARENDT, 2017, p.9).
A pluralidade é “especificamente a condição – não apenas a conditio sine qua non, mas condition per quam – de toda a vida política. ” (ARENDT, 2017, p.9, grifo nosso).
“ninguém é jamais igual a qualquer outro que viveu, vive ou viverá” (ARENDT, 2017, p.10, grifo nosso).
Ela considera que a ação “cria a condição para lembrança” (ARENDT, 2017, p.11).
“estabelecer uma biografia” (ARENDT, 2017, p.119).
A condição de escravidão não é hoje inteiramente manifesta; e por não parecer tanto, torna-se muito mais difícil notá-la ou lembrá-la [...] o homem não pode ser livre se ignora estar sujeito à necessidade, uma vez que sua liberdade é sempre conquistada mediante tentativas, nunca inteiramente bem-sucedidas, de libertar-se da necessidade. (ARENDT, 2017, p. 149).
Segundo Arendt “se não fôssemos perdoados, liberados das consequências daquilo que fazemos, nossa capacidade de agir ficaria, por assim dizer, limitada a um único ato do qual jamais nos recuperaríamos” (2017, p.293)
O milagre que salva o mundo, o domínio dos assuntos humanos, de sua ruína normal, “natural” é, em última análise, o fato da natalidade, no qual a faculdade da ação se radica ontologicamente. Em outras palavras, é o nascimento de novos seres humanos e o novo começo, a ação de que são capazes em virtude de terem nascido. (ARENDT, 2017, p.306, grifo do autor)
que “onde quer que as pessoas se reúnam, esse espaço existe potencialmente.” (ARENDT, 2017, p.247)
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