Os múltiplos extermínios dos corpos negros pela violência de linguagem: Uma reflexão das Fake News sobre Marielle Franco
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v5i5.1585Keywords:
Marielle Franco, Fake News, contra-enunciação, decolonialidadeAbstract
A militância política, atualmente, tenta encontrar seu discurso na reivindicação, no desafio da injustiça e, talvez, na enunciação das minorias, tomando seu lugar nas interações políticas atuantes. Nesse sentido, a atuação de Marielle Franco marcou uma posição de enunciação (BENVENISTE, 2006), isto é, o discurso-ato apropriou-se de um corpo politicamente ativo e falou por si, mesmo sendo nomeada de radical, por espaços e discursos dominantes. Seus enunciados tencionaram a conduta social do bom convívio e da cordialidade dos “cidadãos do bem”, os mostrando manifestantes de discursos de ódio. Com o assassinato de Franco ficou claro que, para sobreviver, pelo menos, a enunciação não pode ser um ato discursivo completo e, por conseguinte, não deve passar de um discurso generalizado ou esquivo da realidade. Após o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, o seu lugar de enunciação tentou ser contradito pela ideologia textual Fake News. As Fake News recortam questões reais para fazer enunciados infundamentados, com “seriedade informativa”, uma contra enunciação bem planejada e sustentada pela desinformação séria. Nessa perspectiva, nosso trabalho visa discutir os parâmetros discursivos das Fake News sobre Marielle Franco, considerando não só o seu ativismo, mas também o que o seu corpo simboliza face à estrutura social-racial brasileira (DJAMILA, 2015). Assim, propomos um olhar interseccional (CRENSHAW, 2002) sobre o corpo negro e as práticas de linguagem sobre ele que desembocam em contra enunciações, tensões e ideologias linguísticas que organizam o que é considerado “verdade”, e até quem pode/deve viver e morrer. Tanto que tal caso não é isolado, coincidentemente o homicídio de mulheres negras aumentou (MAPA DA VIOLÊNCIA, 2015) junto ao surgimento de movimentos sociais feministas e suas várias necessidades. Portanto, observamos o quanto as múltiplas execuções de um corpo-símbolo de esperança contra–hegemônica é projetado na mídia dominante, de forma que a construção colonial de uma memória, de um corpo físico e simbólico, passa a ser a representação de todo o grupo do qual faz parte.
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