A latinidade de Clarice Lispector: a proposta do escritor perceptor nas crônicas clariceanas
DOI:
https://doi.org/10.23899/relacult.v3i3.489Palavras-chave:
Crônicas, Clarice Lispector, cronista perceptor, fomeResumo
Este artigo é um recorte da tese de Doutorado em Letras, na qual analiso as crônicas de Clarice Lispector publicadas no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, e reunidas no livro A descoberta do mundo em 1984. De modo especial, observo a abordagem feita pela cronista sobre o problema social da fome no Brasil daquela época. Assim, parto da proposta teórica de Walter Mignolo, em Histórias locais / Projetos globais (2003), de que é preciso reconhecer as diferenças epistêmicas. Por meio do que o autor chama de pensamento liminar, é possível romper com o projeto cultural moderno, que há muito propaga a subalternização de saberes e culturas, e identificar os vários loci culturais marcados pela diferença. Daí surge também a ideia de que há um componente perceptor em Clarice Lispector, haja vista que a escritora lança mão do espaço jornalístico para projetar as atenções para o problema social da pobreza e a subnutrição. Na década de 60, Lispector antecipa o que no início do século XXI, críticos como Mignolo, e também Frei Betto (2017), destacariam como proposta epistemológica na percepção de saberes e culturas diferentes. As crônicas clariceanas são, portanto, marcadas pela denúncia e pelo desejo de que tão lacerante problema social se resolva: a fome.
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